Todas as matérias do sensacionalismo

Há umas duas semanas, assisti ao filme Todos os homens do presidente, para a cadeira de Texto Jornalístico, na faculdade. Me fez pensar o quanto o sensacionalismo está presente na imprensa atual. Nelson Traquina, no texto Quem Vigia o Quarto Poder, debate o modo como a mídia dá ênfase às notícias que possamos achar interessantes, não às matérias importantes para nossa formação cultural e ideológica. Comunicadores são, afinal, formadores de opinião. A responsabilidade é grande.
A partir de junho de 1972, Bob Woodward e Carl Bernstein, dois repórteres do jornal americano The Washington Post, procuraram indícios que conectassem a Casa Branca ao caso Watergate (um assalto à sede do Partido Democrata com tentativa de espionagem). E encontraram. Dois anos e muitas reportagens depois, o então presidente Robert Nixon renunciou ao cargo. Todos os homens do presidente (1976), dirigido por Alan J. Pakula, foi inspirado no livro de mesmo título, escrito pelos próprios repórteres cujo trabalho derrubou o 37º presidente dos Estados Unidos. O filme mostra como o determinado Woodward e o racional Bernstein suaram as camisetas listradas para publicar suas matérias. Vencedor de 4 Oscars e indicado a outros tantos, o filme é considerado uma aula de jornalismo. Todo profissional ou estudante deveria assisti-lo – mas com cuidado. Nelson Traquina referiu-se à trama como “Viagra Watergate”, e não foi à toa.
Existem várias questões que, hoje, não seriam abordadas da mesma maneira. Se uma investigação de tamanha importância política ocorresse, Bob e Carl possivelmente não se apresentariam como repórteres – seria perigoso, até. Fiquei surpresa, também, ao não ver representantes do Governo batendo na porta do Washington Post e oferecendo dinheiro para deixar tudo “em off”. Porém, ainda com certa diferença entre a década de 70 e hoje, o jornalismo exibido no filme faz jus a um dos conceitos descritos por Traquina, que é proteger os cidadãos do abuso de poder dos governantes. Aproxima-se muito do que a imprensa atual deveria estar fazendo. Deveria, mas o sensacionalismo é tentador. Aí vem a diferença que Traquina aponta entre o jornalismo como negócio e o jornalismo como serviço público.
Todos os homens do presidente mostra o trabalho de dois repórteres que foram muito felizes em expor a corrupção praticada pelo Governo. Só que, hoje, quem ganha espaço na mídia são os assuntos polêmicos, ao invés de temas importantes como o meio ambiente ou a educação.
Por isso, quando virem assuntos como o caso Isabella serem discutidos incansavelmente pela 97º vez, desliguem a televisão e o rádio, fechem o jornal e vão alugar Todos os homens do presidente. Se não cursam jornalismo, pelo menos assistirão a um exemplo de cinematografia que mostra que, depois de mais de 30 anos, as coisas sérias e dignas de matéria de capa ainda acontecem por debaixo dos panos.


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