Nada como uma boa polêmica sobre partes do corpo feminino para aumentar o número de visitas do blog – e deixar alguns fãs muito, muito irritados.
Paulo Sant’Ana, jornalista gaúcho de longa data, é comentarista na RBS TV e na Rádio Gaúcha, além de possuir uma coluna diária fixa no jornal Zero Hora e um blog no site ClicRBS. É conhecido por seus comentários críticos sobre futebol e costumes sociais. Costuma ser absurdamente perspicaz em relação a temas polêmicos e habituais do cotidiano, mas com o
texto publicado dia 25 de janeiro, entretanto, parece ter dado um tiro no próprio pé.
Estava eu, navegando pelos blogs do ClicRBS, quando me deparei com o título da postagem do Sant’Ana: “Epidemia de pernas grossas”. Imediatamente franzi a testa e então sorri, pensando que me depararia com algum tipo de estatística mostrando que as mulheres, afinal, deixaram de buscar incessantemente o padrão esbelto-barra-anoréxico estipulado pela indústria da moda.
O que encontrei, contudo, foi um texto bastante machista que deixou a mim e a mais de 140 leitores (fora os que não comentaram no blog) bastante frustrados e chocados com a generalização equivocada que Paulo Sant’Ana expressou com suas palavras.
O jornalista escreveu sobre o quanto as mulheres estão procurando, cada vez mais, engrossar as pernas e como deveriam envergonhar-se disso. Protestou contra a “onda de pernas grossas que invade a televisão brasileira” e afirmou categoricamente que não é isso que os homens querem.
Ainda acrescentou, em determinada parte do texto: “está aí o mercado de desfiles de moda a pregar claramente que o caminho para a beleza está na esbeltez”.
Na esbeltez? Mesmo? Pessoalmente, prefiro que o meu corpo e que os corpos das mulheres em geral fiquem o mais longe possível do padrão anoréxico estampado nos outdoors, capas de revista e comerciais pelo mundo afora.
Será que o Sant’Ana não anda prestando atenção quando anda pelas ruas desse país? Aliás, não é preciso nem sair de Porto Alegre para perceber qual é o padrão corporal verdadeiro da mulher brasileira: quadris largos, pernas grossas.
“Será que elas [mulheres que procuram engrossar as pernas] não calculam o suplício das mulheres que de nascença têm as pernas grossas e são obrigadas a esconder-se atrás das calças compridas para permanecerem no mercado romântico e sensual?”
Posso estar enganada, mas, particularmente, nunca vi mulher esconder as pernas grossas – muito pelo contrário. Além disso, talvez grande parte dessa confusão se dê porque vários (para não dizer “a maioria dos”) relacionamentos são tratados exatamente como Sant’Ana (equivocadamente) nomeou: um “mercado” de relações comerciais, rápidas e imediatistas, onde o “produto” funciona até ser trocado por um modelo mais novo e mais satisfatório.
Sant’Ana terminou o texto com um grosseiro “elas que se ralem”, afirmando que as mulheres devem ir às favas se não se importarem com a opinião masculina.
Ai ai ai, Sant’Ana.
Ao contrário do início do texto, o alarme não deveria soar quando mulheres de pernas grossas aparecem na televisão. Deveria era disparar quando avistamos garotas excessivamente magras andando por aí, prestes a desmaiar ou a serem levadas pelo vento. Tocar bem alto quando vemos amigas, irmãs, namoradas, esposas, todas fazendo dieta, malhando e ingerindo vitaminas. Tomando providências não para sentirem-se bem consigo mesmas e permanecerem saudáveis, mas pura e simplesmente para agradar o companheiro.
Ao invés de protestar contra as mulheres que engrossam as pernas porque (segundo ele) os homens não gostam disso, Sant’Ana deveria escrever que as mulheres têm é de parar de seguir padrões – e isso vale para os homens, também. Beleza é sentir-se bem, tendo pernas grossas ou finas.
FELIZ DIA DA MULHER A TODAS!